Do giz à literatura terapêutica: conheça a história da aposentada Dirce
A ex-professora, atualmente, é terapeuta e escritora, e publicou um livro sobre contação de histórias
Publicado em 23/06/2025 13:49 - Atualizado em 23/06/2025 13:57
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A vida da aposentada Maria Dirce Barcelos Silva é um verdadeiro baú de histórias e contação. Não à toa prefere ser chamada apenas por seu segundo nome, Dirce, uma espécie de personagem para a terapeuta e escritora que se tornou.
A ex-professora da Prefeitura da Serra lançou no ano passado seu primeiro livro: ‘A contação de histórias como ferramenta de identificação no processo terapêutico infanto-juvenil’. Além de sua busca incessante por conhecimento, os filhos Marcela e Lázaro foram fundamentais para a publicação dessa obra.
Marcela, pode-se dizer, que foi a “culpada” direta. Ela que entrou em contato com a editora para fazer publicidade dos textos de Dirce.
“Eu não tinha a pretensão de ser escritora. Sempre me achei perfeccionista ministrando aulas e palestras, mas nunca boa o suficiente para lançar livros. Também me sentia, de certa forma, frágil, devido ao câncer de mama que tratei de 2019 a 2024. Depois da minha experiência com a finitude, senti-me mais livre, perdi o medo e resolvi publicar a obra”, disse a ex-professora.
Liberdade que estava meio “adormecida”, mas presente no inconsciente de Dirce. Nascida em Vitória/ES, filha de um encarregado de linha e uma professora, exímios contadores de histórias, sempre passava férias com os avós Nila e João, no distrito de Calogi, na Serra.
“A contação sempre fez parte da minha vida. Meu pai Adionor contava estórias de pescadores e assombração; vovó e minha mãe Eleta davam aulas em Calogi, ou seja, eram mestras da contação; e meu avô era lavrador, pescador, contador de feijão e de ‘causo’”, lembrou a aposentada, moradora do bairro Valparaíso.
Dirce, então, transmitiu essa arte a seus filhos Marcela, Lucas e Lázaro. Por meio do último, nasceu Lorenzo, que é autista com altas habilidades e possui Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. O laudo de seu neto só seria fechado com três anos de idade. Durante esse tempo, Dirce não parou de estudar, mesmo fazendo tratamento.
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“Busquei entender melhor meu neto para orientar outras pessoas. Ele é um presente na minha vida. Minha maior diversão é contar histórias para ele. Tanto que, no livro, há um capítulo só sobre o Lorenzo”, disse a ex-professora.
Um livro resultado de intensa dedicação. Ainda na ativa, Dirce fez Magistério, graduou-se em Pedagogia, fez pós-graduação em Docência do Ensino Superior e mestrado em Psicanálise. Depois que se aposentou, em 2020, completou ainda uma pós-graduação em Neuropsicopedagogia e uma licenciatura em Ciência das Religiões. Isso sem mencionar os vários cursos que fez na área de contação de histórias.
E, por falar em contação, a aposentada confessou que construiu a obra a partir das aulas que deu em uma faculdade. Durante as explicações, ela usava sempre estórias e vídeos para fazer metáforas e analogias.
“Eu levava máscaras, perucas e roupas, a fim de criar um ambiente de fantasia. Assim, os alunos se identificavam, ficavam à vontade e continuavam as estórias que eu contava por trás da minha personagem. Hoje, utilizo essa estratégia terapêutica em minhas consultas de psicanálise, principalmente, com crianças”, relatou.
Dirce diz-se sentir privilegiada por voltar a trabalhar com a mente humana. “É Freud em uma cabeceira e a Bíblia, na outra”. Ela combina essas inspirações com idas à praia e à igreja.
“Não inicio nem termino meu dia sem oração. O cheiro do mar também me faz muito bem. Foi, em uma dessas idas à praia, que produzi a primeira parte de um documentário. Ele já está, inclusive, filmado, e fala sobre a história do bairro Manguinhos e seus moradores mais antigos”, afirmou.
Indagada sobre a previsão de lançamento desse documentário e também de outros três livros, que confessou estarem prontos, Dirce preferiu fazer suspense. Ela acredita que sairão na hora certa e que curtir essas atividades a ajuda em sua qualidade de vida.
“É levantar e ter um compromisso com você. A aposentadoria não é um fim, mas o começo de um novo ciclo. É como tecer uma tapeçaria sem terminá-la, para que outras gerações continuem da forma delas”, filosofou.
Seguindo esse raciocínio, ela considera fundamental que o IPS tenha iniciativas como a série ‘Beneficiário em Destaque’, para combater o preconceito.
“Muitos falam que o aposentado não serve para nada ou que só serve para cuidar de neto, de casa ou para bancar alguém com seu benefício. Essa é uma visão ocidental. No Oriente, somos vistos como sábios, como pessoas que têm muita experiência para transmitir aos outros”, destacou.
Por essa razão, a terapeuta e escritora alerta sobre a busca que os servidores precisam ter ao se aposentarem.
“Por experiência própria, digo que o aposentado pode se sentir despersonalizado. O que ele necessita é fazer um resgate de quem ele é. Antes, eu era uma professora, mas nunca fui só isso, entende? Ou seja, o aposentado precisa deixar emergir, florescer o seu eu. Não é porque uma árvore é antiga, que não dará mais frutos”, comentou.
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E você, é aposentado da Serra e tem algum projeto de vida bacana? Participe das matérias da série ‘Beneficiário Em Destaque’.
Basta entrar em contato com o Serviço Social do IPS, por meio do telefone 3089-4800. O setor organizará as informações daqueles que implementaram novas formas de viver a aposentadoria e irá encaminhá-las para a Unidade de Comunicação do Instituto.
As matérias poderão abordar: projetos de desenvolvimento pessoal; lazer e saúde; financeiros; desenvolvimento da espiritualidade e outros.
Ao fim de cada ano, a autarquia reunirá todos esses protagonistas em um encontro especial, no qual poderão compartilhar experiências e sensações que tiveram com a iniciativa.
Jornalista responsável: Daniel Vargas
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por Comunicação